Apresentação

Gerar, disseminar e debater informações sobre DIET & LIGHT, sob enfoque de Saúde Pública, é o objetivo principal deste Blog produzido no Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde - LabConsS da FF/UFRJ, com participação de alunos da disciplina “Química Bromatológica” e com apoio e monitoramento técnico dos bolsistas e egressos do Grupo PET-Programa de Educação Tutorial da SESu/MEC.

Recomenda-se que as postagens sejam lidas junto com os comentários a elas anexados, pois algumas são produzidas por estudantes em circunstâncias de treinamento e capacitação para atuação em Assuntos Regulatórios, enquanto outras envolvem poderosas influências de marketing, com alegações raramente comprovadas pela Ciencia. Esses equívocos, imprecisões e desvios ficam evidenciados nos comentários em anexo.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

FRUTOSE NÃO É AÇÚCAR DAS FRUTAS




Luiz Eduardo Carvalho
                                                                  Professor da Faculdade de Farmácia da UFRJ
 
 
                        Foi na escola que eu (des)aprendi isso. Imagino que você também. A professora colocou na lousa: "Sacarose é açúcar de cana. Lactose é açúcar do leite. E Frutose é o açúcar das... ". Parece lógico. Frutose... só pode ser açúcar de frutas. Mas está errado. Aliás, duplamente errado. Dois erros: as frutas contém sim frutose, mas contém muitos outros açúcares, inclusive em quantidades bem superiores, inclusive glicose e sacarose. E, além disso, a frutose que é vendida purificada, isolada, em pó, nas farmácias brasileiras, essa é feita é de milho mesmo.
 

Doçura & Calorias

                        Frutose, é verdade, é bem mais doce que o açúcar comum, a sacarose. Alguma coisa em torno de 33% mais doce.  No entanto, fornece as mesmas calorias em cada grama. Ou seja, cada grama de frutose, ou de sacarose, tanto faz, fornece as mesmas 4 kcal.

                        Frutose engorda igualzinho à sacarose. O que a favorece, para quem se preocupa com o peso do corpo, é que, sendo uns 33% mais doce, basta colocar, no café, 25% menos do que se colocaria, normalmente, de sacarose. Assim, adoçando com frutose, é possí-vel ingerir 25% menos calorias. Pode ser aritmeticamente atraente.  Contudo, não vai garantir emagrecimento não, a menos que muitas outras dolorosas e amargas provi-dências dietéticas sejam adotadas simultâneamente. Mas isso já é outro assunto. Vol-temos à frutose...
 

Diabéticos

                        Diabéticos não devem ingerir açúcares de rápida absorção pelo intestino, que demande insulina imediata, como é o caso da sacarose. Os EEUU têm defendido, junto à Orga-nização Mundial da Saúde (OMS), que a frutose pode  sim ser ingerida por diabéticos, sem riscos. Não deve ser mera coincidência o fato dos EEUU serem donos da patente da fabricação industrial da frutose (que não é extraída de frutas, mas sim feita de milho).

                        A pretensão norte-americana é firmemente combatida pelos países europeus, princi-palmente pelos escandinavos que, vale ressaltar, são, por sua vez, os detentores das patentes de fabricação de xilitol, sorbitol e manitol. Ou seja, de substâncias também usadas como adoçantes em produtos para dietas de diabéticos.

                        Os EEUU rebatem, afirmando que esses adoçantes escandinavos são laxantes, o que é também verdade. E a polêmica, onde o interesse comercial parece moldar o argumento científico, continua.
 

O nome das coisas

                        A glicose é também conhecida como dextrose. Principalmente nos livros acadêmicos de Food Science. Ali, a frutose tende a perder esse nominho associado com frutas. Ali, a nomenclatura que emerge é levulose.

                        Como bem sabemos, as coisas, as substâncias, os eventos, e mesmo as pessoas, eles não têm nome. O nome é uma coisa inventada pelo cérebro humano. O nome não é exatamente a coisa. O nome, muitas vezes, é menor que a coisa. E a coisa deixa de ser a coisa para ser o nome. Temos aqui mais um exemplo desse fenômeno.

                        A frutose é encontrada sim nas frutas e no mel. E a lactose é encontrada no leite. Mas nem todo açúcar de frutas é frutose. E nenhuma frutose disponível no mercado parece extraída do mel ou sequer de frutas, mas apenas do milho, apesar das informações difusas nos rótulos laterais desses produtos.
 

Milho, milho

                        Imagine o milho. Ele vira fubá. O fubá tem amido. Mas tem também fibras e algo em torno de 10% de proteínas.  Então esse fubá é refinado, para chegarmos ao amido. Pronto. Esse produto todo mundo conhece. Ele está no mercado. E seu nome já não é exatamente amido de milho, sendo popularmente conhecido por Maizena.

                        O amido, quimicamente, é apenas uma longa cadeia de moléculas de glicose. Então, esse mesmo fabricante pega esse amido refinado e, com ácido clorídrico, pressão e calor, quebra essa longa cadeia, formando um xarope contendo essas moléculas de glicose. Parece complicado. Pode parecer estranho. Mas não. Em verdade, estamos falando de uma coisinha muito familiar: esse xarope está no supermercado, dentro de uma garrafa, parecendo  mel, e rotulado como Karo.

                        Desse xarope de glicose, a indústria, por novos processos químicos ou enzimáticos, chega enfim à frutose. Ou seja, a frutose é feita, industrialmente, da glicose, que é feita do amido, que é tirado do fubá, que um dia foi milho. Nada a ver com as cerejas e o mel que os fabricantes de frutose colocam coloridamente em seus rótulos.

10 comentários:

Anônimo disse...

Revelador...

Renata disse...

Excelente abordagem e forma como foi escrito; linguagem clara, de fácil entendimento e leitura.

Parabéns!


Renata
Farmacêutica e Jornalista

Rosani disse...

Parabéns.
Estava pesquisando sobre frutose na internet e encontrei essa postagem.
Vou utilizá-la em meu blog.
Agradeço muito.

Nana Guimarães disse...

Olá, professor!
Sou do blog Alimentação e Saúde Infantil. Estava pesquisando sobre outro assunto e acabei chegando aqui.
Adorei principalmente por encontrar um profissional que se importa com o outro lado. Se não se importa, estarei publicando no meu blog suas postagens, com fonte, com certeza!
Vai ser muito bom divulgar seu conhecimento!!
Nana

Jorge Ramiro disse...

Eu gosto de refeições de baixas calorias. Antes eu estava comendo alimentos altamente calóricos, mas agora eu sei que você pode comer as refeições de baixas calorias sem ganhar peso. E você pode comer alimentos ricos sem ganhar muito peso. Eu sempre vou a restaurantes em jardins que têm uma refeição saudável.

Anônimo disse...

só esqueceu de falar que é a Frutose que bota no cu de todo mundo . só o figado consegue metabolizar ela antes de poder ser usada como energia pelo corpo , e se o figado estiver saturado de frutose (ou os triglicerideos que ela forma) , é desencadeado um bendito processo de resistencia insulinica . Sacarose é o veneno mais "STEALTH" de todos os tempos , pois graças ao enorme consumo de açucar de mesa que os percentuais de diabéticos no mundo todo cresce exuberantemente ! diga NÃO ao açucar de mesa e tudo que possa conter niveis elevados de frutose ( principalmente o HFCS ) .

Eliane Lima disse...

parabens pelo grande conhecimento,foi muito util e esclarecedor...cambraia de porto alegre

Anônimo disse...

Logo, a frutose pode ser consumida pelo diabético, certo?

Aline Zuim disse...

Como o amigo acima perguntou, também fiquei na dúvida, depois de todas essas informações se o diabético deve ou não consumir frutose. Minha filha de 7 anos é diabética e nosso grande problema é fazer bolos, e afins. O adoçante tradicional culinário "estraga" as receitas. Pensei em substituir por frutose, ao menos nas receitas e manter a stevia nos sucos e outros. O que acha? Grata, Aline.

Anônimo disse...

oi obrigada pelas informações, me foi muito util